segunda-feira, 29 de abril de 2013

Pessoas e línguas aglutinantes


         Na última aula, 26/04, foi lida uma das postagens dos AVMs passados . Fantástica a relação entre as formas livres e presas e as pessoas da nossa família! Achei a explicação de línguas isolantes, aglutinantes e flexionais ainda mais parecida com o que temos ao nosso redor.
Quando Petter[1] diferencia as línguas de acordo com a predominância das características que apresentam, temos três tipos de pessoas palavras definidas assim:
- ISOLANTES: todas as palavras são raízes porque seu significado está expresso em toda a palavra, e não segmentados em partes menores dentro dela. Exatamente como as pessoas se definem quando estão apaixonados: a pessoa é tudo DENTRO dela, e a existência de outras formas pessoas dentro de seu coração é improvável.
- FLEXIONAIS: línguas que combinam raízes com outros elementos mórficos, e esses últimos não podem ser separados em informações menores, no modelo de um significado para cada som. Petter oferecer do Latim como exemplo: na palavra bom-as, o sufixo –as guarda os valores de acusativo (caso), número (plural) e o gênero (feminino).
- AGLUTINANTES: os elementos irredutíveis (raízes) são comuns a uma série de palavras, e seus afixos também apresentam ampla possibilidade de combinações, alterando as relações gramaticais. São relações quase idealizadas: cada forma apresenta uma forma e uma função, e o par “um som, um significado” é real.
Da mesma forma que pessoas não podem ser exclusivamente definidas por uma de suas características, também as línguas apresentam predominância de uma ou outra forma, o que não exclui a presença das demais tipologias. Pessoas atravessam momentos em que estão muito cheias de si, se comportando como raízes. Em outros momentos, nossos afixos são tudo que temos e só somos completos ao seu lado. A realidade é que ser gente do tipo isolante deve ser muito ruim, porque legal mesmo é estar completo mesmo quando mudamos o os elementos ao redor. Essa tal flexibilidade leva adiante...
Fran Boas e Sapir, no início do século, desenvolveram estudos críticos a respeito de uma quarta tipologia, identificada por Humboldt em 1836. Trata-se das línguas polissindéticas ou incorporantes, em que sentenças completas podem ser expressas em uma palavra, e os morfemas de tipo flexionais e aglutinantes estão presentes (apresentam raízes combinadas e seus morfemas podem ser analisados no modelo “um som, um significado”).
Ressalte-se que, assim como as pessoas, línguas que apresentem palavras grandes nem sempre são palavras que expressem uma sentença completa. No alemão, por exemplo, as palavras são longas e têm processo de composição, mas não se confundem com a tipologia ora apresentada.
No capítulo em estudo são apresentados outros temas fundamentais da morfologia, que serão tratados em espaço próprio.


[1] PETTER, M. T. Morfologia. In: FIORIN, J. L. (org). Introdução à Linguística II: princípios de análise. São Paulo: Contexto, 2010.

Morfologia, sintaxe e os meus alunos.



Embora não seja o foco desta disciplina, o ensino das formas das palavras é extremamente importante já desde as séries iniciais. Nossos alunos são conduzidos por aulas que envolvem, a partir do 6º ano, antiga 5ª série, as classes de palavras. Mais adaptados ao estudo formal da língua, eles são apresentados às funções que frases bastante complexas podem apresentar.
Nesse ínterim, a Educação tem esquematizado planos de curso onde estão omitidos os limites entre forma e função. Lecionando para um “aluno nota 9,0” de um excelente colégio particular aqui em Brasília, escrevi uma frase no caderno e perguntei se o “Eu” era sujeito do verbo “fiz”, ao que ele respondeu: não, é pronome.
No 9º ano, esperamos encontrar alunos que saibam distinguir forma – morfologia, e a função da palavra. Não apenas porque o professor precisa contextualizar essas informações, senão também porque os alunos já vieram de uma mudança de paradigma, da realização incessante de análises sintáticas em frases soltas e sem sentido.
Inevitavelmente, esse blog terá caráter de Diário de Bordo. Início de semestre na UnB e início de bimestre nas escolas, e sempre encontramos nos textos realidades que podemos aplicar em sala, ou que já aplicamos. Espero que eu consiga conciliar as experiências de aluna com as de professora, e, quem sabe, entender melhor o meu mundinho!